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(214)

08.07.25

"Estar presente ao lado de alguém que precisa de Cuidados Paliativos não é viver pela pessoa o que ela tem para viver. A habilidade da pessoa que tem de estar ao lado de quem sofre, de quem está a morrer, é um dom, um talento chamado empatia. Empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que pode ser a habilidade mais importante para um profissional de saúde que quer trabalhar com Cuidados Paliativos, pode ser também o maior risco para que ele se torne incapaz de cuidar.

A empatia tem o seu perigo; a compaixão, não. A compaixão vai além da capacidade de se colocar no lugar do outro; ela permite-nos compreender o sofrimento do outro sem que sejamos contaminados por ele. A compaixão protege-nos desse risco. A empatia pode acabar, mas a compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma, podemos ir na direção do sofrimento do outro e nos esquecermos de nós. Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos de saber quem somos e do que somos capazes."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:29

(213)

08.07.25

"Se nunca viveram com sentido, dificilmente terão a chance de viver a morte com sentido."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:28

(212)

08.07.25

"(...) só conseguiremos pensar sobre o sentido da vida se a dor passar. O meu papel como médica é tratar o sofrimento físico com todos os recursos disponíveis. Se a falta de ar passar, se qualquer desconforto físico intenso passar, haverá tempo e espaço para a vida se manifestar. Muitas vezes, diante do alívio do sofrimento físico, o que aparece em seguida é a expressão de outros sofrimentos, como o emocional e o espiritual."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:26

(211)

08.07.25

"Penso que todo o médico deveria ser preparado para nunca abandonar o seu doente, mas na faculdade aprendemos apenas a não abandonar a doença dele. Quando não há mais tratamentos para a doença, é como se não tivéssemos mais condições de estar ao lado do doente. A doença incurável traz-nos uma sensação demasiado má de impotência, de incapacidade. O médico que foi treinado sob o conceito ilusório de ter o poder sobre a morte está condenado a sentir-se fracassado em vários momentos da carreira. A infelicidade é uma presença constante na vida do médico que só aprendeu sobre doenças. Já aquele médico que busca o conhecimento sobre «cuidar» com o mesmo empenho e dedicação que leva para o «curar» é um ser humano em permanente realização."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:22

(210)

08.07.25

"Ter alguém que se importe com o nosso sofrimento no fim da vida é uma das coisas que traz muita paz e conforto para quem está a morrer e para os seus familiares."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:20

(209)

08.07.25

"Os Cuidados Paliativos podem ser úteis em qualquer fase da doença, mas a sua necessidade e o seu valor ficam muito mais claros quando a progressão atinge níveis elevados de sofrimento físico e a medicina nada mais tem para oferecer. Fecha-se, assim, o prognósticoe anuncia-se a proximidade da morte. Os médicos profetizam: «Não há mais nada a fazer». Mas descobri que isso não é verdade. Pode não haver tratamentos disponíveis para a doença, mas há muito mais a fazer pela pessoa que tem a doença."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:18

(208)

08.07.25

"No exame físico, consigo avaliar quase todos os órgãos internos de um doente. Com alguns exames laboratoriais e de imagem, consigo deduzir com muita precisão o funcionamento dos sistemas vitais. Mas, ao observar um ser humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica a sua paz. Ou quanta culpa corre nas suas veias, com o seu colesterol. Ou quanto medo há nos seus pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de solidão e abandono."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:12

(207)

08.07.25

"Como Nietzsche, eu também acreditava que o Homem tolera qualquer «como» se tiver um «porquê»".

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:11

(206)

08.07.25

"Cada um de nós está presente na própria vida e na vida de quem amamos. Presente não apenas fisicamente, mas presente com o nosso tempo, o nosso movimento. Só nessa presença é que a morte não é o fim."

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:09

(205)

08.07.25

"E a morte é um excelente motivo para procurar um novo olhar para a vida."

 

Ana Claudia Quintana Arantes, "A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver" 

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publicado às 12:08

(204)

25.09.24

"Nunca confies na memória porque está sempre do nosso lado: suaviza a atrocidade, dulcifica a amargura, põe luz onde só houve sombras. A memória tende sempre à ficção."

 

Luís Sepúlveda, "A sombra do que fomos"

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publicado às 21:18

(203)

25.09.24

"- No próprio ano de setenta e um, assim que Allende assumiu a presidência, a extrema-esquerda começou a incentivar as ocupações dos locais de trabalho onde havia problemas que, vendo bem, não passavam de sarilhos que podiam ser solucionados de uma forma simples, legal, mas sob a palavra de ordem leninista «quanto pior, melhor», ocupavam-se fábricas que não tinham a mais pequena importância. E claro, como o governo popular não podia reprimir, nomearam-se mediadores e para isso procurou-se entre a militância os camaradas que percebiam realmente a natureza e as limitações do governo do povo. Era preciso pôr a trabalhar rapidamente todas essas fábricas e pequenas indústrias ocupadas, os mediadores tinham de ser bastante dinâmicos e criativos. Ser criativo era a palavra de ordem. (...) O caso é que um dia me nomearam mediador num aviário de Puente Alto, sabes, a sul de Santiago. Era uma série de barracões de rede metálica com umas incubadoras que podiam chocar dois mil frangos por semana, uns bichos feios, brancos, quase albinos, que passados sessenta dias estavam prontos para o sacrifício. Além disso, o aviário tinha duas mil galinhas poedeiras o que significava uma produção de sessenta mil ovos por mês. O negócio funcionava sem problemas, no aviário trabalhavam uns vinte tipos que percebiam do seu trabalho e os canais de distribuição também não causavam contratempos, de modo que coloquei o meu saco-cama, os meus livros e a mochila naquele que tinha sido o gabinete do administrador e comecei a familiarizar-me com os frangos e com as galinhas. Nos dois primeiros meses correu tudo bem, mas no terceiro, outros camaradas de extrema-esquerda decidiram ocupar a fábrica de rações e deixamos de ter alimento para os bichos. Tanto os frangos como as galinhas resistiram dois dias sem grandes demonstrações de desespero, mas ao terceiro os frangos começaram a picar-se uns aos outros, as galinhas deixaram de pôr e o cacarejo de fome partia-nos a alma. A palavra de ordem era sermos criativos, de modo que no quinta dia fui até à propriedade vizinha, uma fábrica de desidratação de frutas também ocupada, que tinha uns vinte hectares de pomar e muita erva, e o mediador autorizou-me a levar os meus frangos e galinhas para que pastassem. Os operários dos aviário fizeram de pastores e era um verdadeiro espetáculo ver aqueles dez mil frangos e duas mil galinhas andando aos saltinhos por um caminho de terra. O campo é pródigo em bichinhos pequenos, caracóis gordos, minhocas sumarentas, grilos estaladiços mas aqueles frangos e galinhas nunca tinham visto um verme, ignoravam-nos, receavam-nos, fugiam deles e para o pasto nem olhavam. Oh, se foi um triste regresso ao aviário! E o que veio depois foi ainda pior, porque o exercício lhes tinha aumentado a fome e os malditos frangos começaram a praticar o canibalismo. 

« Ao décimo dia estavam vivos metade dos frangos, as galinhas não punham ovos mas resistiam, e embora agora me pareça incrível, uma, só uma galinha pôs todos os dias o seu ovo da praxe. Eu apontava no relatório de produção: ovos - 1.»

- Era uma galinha com consciência de classe - assegurou Arancibia.

- Uma heroína do trabalho socialista. Ao décimo primeiro dia, hesitando entre o  suicídio e o assassinato em massa, decidimos pelo segundo; ser criativo era a palavra de ordem, de modo que reuni os homens mais fortes do aviário, armamo-nos com umas espingardas de caça e saímos em dois camiões rumo à fábrica de rações.

(...) Esses tipos que tinham ocupado a fábrica de rações também eram camaradas e não se resolvem a tiros as contradições no seio do povo - comentou Arancibia. (...) Chegámos  à fábrica, a primeira troca de impressões não foi muito fraterna e quando se nos acabou o inventário de insultos estávamos empatados. Eles armados de espingardas, uma ou outra pistola, e nenhum desejo de largar uns sacos de ração. Nós, com os nossos ferros e uma vontade louca de assaltar a despensa. Finalmente chegámos a acordo: eles deixavam-nos carregar os camiões e nós mandávamos frangos para manter a panela comum. (...) Carregámos os camiões a toda a pressa, regressámos ao aviário, enchemos os comedouros generosamente e fui dormir. Não dormi muito porque, poucas horas depois, alguns camaradas foram acordar-me dizendo que as galinhas e os frangos faziam um bacanal nas capoeiras. Pondo as coisas nessa linguagem que tanto te agrada, os bichos estavam entregues ao mais burguês dos liberalismos e por nossa culpa. Com a pressa, em vez de carregarmos os camiões com ração, fizemo-lo com sacos de um complexo vitamínico que devia ser administrado na proporção de um punhado por cada duas sacas de alimento. Os frangos estavam frenéticos e as galinhas loucas, perdendo as penas às mãos-cheias. Ao amanhecer, tínhamos sete mil pássaros em pêlo e mortos de frio. 

- Nada disso importa se temos o calor das grandes proletárias - precisou Arancibia.

- Uma merda. Não tivemos outro remédio senão recorrer ao sindicato da fábrica de arame de cobre, aqueles tipos eram os mais sensatos do país. Lembraste do velho Yañez? Pôs-nos em contacto com o mediador de uma fábrica de aquecedores e, assim, rodeamos os galinheiros de aquecedores a gás. Nunca foi tão caro produzir um ovo ou ver crescer um frango. Odeio-os com toda a minha alma - concluiu Salinas, esvaziando o copo de uma só vez."

 

Luís Sepúlveda, "A sombra do que fomos"

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publicado às 20:47

(202)

10.10.21

"As gerações são como fronteiras, são como linhas, marcam uma estrema que divide. As gerações só se dão verdadeiramente definidas no fim do último elemente que as compõe. É esse que transporta a derradeira ponta do fio e, por mais aparente eternidade, chegará o seu momento. As fronteiras não podem escapar à sua natureza profunda: marcam o fim do que nos pertence e o início de tudo o que existe para além de nós, tudo o que nos ignora. As gerações são como fronteiras. Podemos considerar qualquer geração: acontece aos mais velhos, aos mais novos, acontecerá aos que são agora crianças e aos que são agora adolescentes, apesar da sua inocente arrogância. Chegará o tempo em que desaparecerão um a um. Entre eles, quem serão os primeiros? Quem morrerá antes do tempo? E quem será o último? Quem terá de assistir à morte de todos os outros? Esse aprenderá esta lição pela experiência, a sua vida será a fronteira."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:31

(201)

10.10.21

"Quando acumulamos sufiente tempo, os domingos transformam-se num período de vida. Recordamos os domingos como uma unidade, anos inteiros só de domingos, estações inteiras compostas apenas por domingos: os domingos de verão, os domingos de outono, todos os domingo de inverno e, de novo, as promessas feitas pelos domingos de primavera. Foram dias separados por semanas, antecedidos por sábados com ilusões próprias, sucedidos por segundas-feiras com agendas precisas, tarefas fatais que exigiam ser feitas, mas tudo se dissipa até ficar apenas uma amálgamade domingos. Ao serem vividos, transformaram-se nessa amálgama, como um almoço de domingo infinito, a crescer permanentemente a partir do seu interior."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:26

(200)

10.10.21

"Morrer é dos verbos em que existe maior separação entre a primeira e a terceira pessoa. Se ele morre, é a vida, pode merecer um instante de pausa, o olhar brevemente caído, ou nada; se ele morre, pode não existir qualquer reação; se eu morro, implode o universo, não há outro assunto."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:22

(199)

10.10.21

"O passado tem de provar constantmente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indíviduo desparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido. (...) O passado é enorme, é como uma montanha, e assenta inteiro sobre o presente, que é como uma agulha, como a ponta afiada de uma agulha."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:17

(198)

24.08.20

"As pessoas consideram muitas vezes que a escrita de um romance começa pela ideia. A bem dizer, um romance começa, antes de mais, por uma vontade: a vontade de escrever. Uma vontade que toma conta de nós e contra a qual não há nada a fazer, uma vontade que nos desvia para tudo o resto. A esse desejo constante de escrever chamo doença dos escritores. Pode-se encontrar a melhor das intrigas romanescas, mas, se não houver a tal vontade de escrever, não se vai a lado nenhum."

 

Joël Dicker, "O enigma do quarto 622"

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publicado às 19:55

(197)

24.08.20

"A beleza que a Cerullo possuía na mente desde pequena não encontrou saída, Greco, e foi-lhe toda parar à cara, ao peito, às coxas e ao cu, lugares onde depressa desaparece, e é como se nunca a tivesse tido."

 

Elena Ferrante, "A Amiga Genial"

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publicado às 19:32

(196)

01.08.20

"Kafka escreveu, nos seus diários, que «um escritor que não escrever é um monstro a cortejar a insanidade». (...) Faz a ti próprio esta pergunta à maneira de Rilke: Preciso de escrever? E, caso a resposa seja positiva e sincera, então podes chamar a ti próprio «escritor«, mesmo que nada tenhas publicado."

 

João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor

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publicado às 21:26

(195)

01.08.20

"Faulkner disse acerca de Hemingway: «Que se saiba, ele nunca usou uma palavra que fizesse o leitor ir ao dicionário.» Hemingway interpretou isto da seguinte maneira: «Pobre Faulkner. Será que ele julga mesmo que as grandes emoções nascem das grandes palavras?".

 

João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor

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publicado às 21:24


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