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(202)

10.10.21

"As gerações são como fronteiras, são como linhas, marcam uma estrema que divide. As gerações só se dão verdadeiramente definidas no fim do último elemente que as compõe. É esse que transporta a derradeira ponta do fio e, por mais aparente eternidade, chegará o seu momento. As fronteiras não podem escapar à sua natureza profunda: marcam o fim do que nos pertence e o início de tudo o que existe para além de nós, tudo o que nos ignora. As gerações são como fronteiras. Podemos considerar qualquer geração: acontece aos mais velhos, aos mais novos, acontecerá aos que são agora crianças e aos que são agora adolescentes, apesar da sua inocente arrogância. Chegará o tempo em que desaparecerão um a um. Entre eles, quem serão os primeiros? Quem morrerá antes do tempo? E quem será o último? Quem terá de assistir à morte de todos os outros? Esse aprenderá esta lição pela experiência, a sua vida será a fronteira."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:31

(201)

10.10.21

"Quando acumulamos sufiente tempo, os domingos transformam-se num período de vida. Recordamos os domingos como uma unidade, anos inteiros só de domingos, estações inteiras compostas apenas por domingos: os domingos de verão, os domingos de outono, todos os domingo de inverno e, de novo, as promessas feitas pelos domingos de primavera. Foram dias separados por semanas, antecedidos por sábados com ilusões próprias, sucedidos por segundas-feiras com agendas precisas, tarefas fatais que exigiam ser feitas, mas tudo se dissipa até ficar apenas uma amálgamade domingos. Ao serem vividos, transformaram-se nessa amálgama, como um almoço de domingo infinito, a crescer permanentemente a partir do seu interior."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:26

(200)

10.10.21

"Morrer é dos verbos em que existe maior separação entre a primeira e a terceira pessoa. Se ele morre, é a vida, pode merecer um instante de pausa, o olhar brevemente caído, ou nada; se ele morre, pode não existir qualquer reação; se eu morro, implode o universo, não há outro assunto."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:22

(199)

10.10.21

"O passado tem de provar constantmente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indíviduo desparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido. (...) O passado é enorme, é como uma montanha, e assenta inteiro sobre o presente, que é como uma agulha, como a ponta afiada de uma agulha."

 

José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"

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publicado às 22:17

(128)

17.05.15

"É tão fácil comparar a vida com uma viagem. Faz tanto sentido.

Viagem ou vida, chegamos sempre aqui. Como se estivéssemos no alto de uma montanha, podemos olhar em volta. Aqui é o lugar onde tudo acontece. Há serenidade nesta certeza. Tens o dever livre de aproveitá-la.

Se estás a ler estas palavras é porque estás vivo."

 

Dentro do Segredo, José Luís Peixoto

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publicado às 23:44

(52)

16.04.12

"Não sei distinguir o possível do impossível, mas sou capaz de imaginá-los a ambos. E talvez a verdade esteja espalhada ou escondida em alguma parte desse infinito. Se isso não é extraordinário, desisto. Impressionante também é o facto de que quase tudo o que aqui disse sobre mim, pode igualmente ser dito sobre ti. Para este efeito, os meus olhos são os teus. Também tu estás num hoje em que podes recordar e em que podes imaginar. Sim, tu. (...) O tempo não passa depressa, mas passa. O quintal nunca suportou o seu peso nos ramos dos pessegueiros. Apenas parecia muito nitidamente que era assim. Às vezes ainda parece. Existe a precisão geométrica e os registos; no entanto, depois do amor, provou-se que nada tem de ficar como está ou de ser como é."



José Luís Peixoto, in Visão

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publicado às 00:26

(39)

16.04.12

"Havemos de engordar juntos, esse era o nosso sonho. Há alguns anos, depois de perder um sonho assim, pensaria que me restava continuar magro. Agora, neste tempo, acredito que me resta engordar sozinho."

 

Crónica de José Luís Peixoto na Visão

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publicado às 00:14


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