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Dos livros aos filmes, passando pelos blogs. As frases que me marcam.
"Vivemos com suposições tão fáceis, não vivemos? Por exemplo, de que a memória é igual aos acontecimentos mais o tempo. Mas é tudo muito mais acidental do que isso. Quem foi que disse que a memória é aquilo que pensávamos ter esquecido? Para nós devia ser óbvio que o tempo não atua como fixador, e sim como dissolvente. Mas não é conveniente - não é útil - acreditar nisso; não nos ajuda a seguir com a nossa vida; por isso ignoramo-lo."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.69
"Mas o tempo... o tempo primeiro fixa-nos e depois confunde-nos. Pensávamos que estávamos a ser adultos quando estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser adultos, mas estávamos só a ser prudentes. Imaginávamos que estávamos a ser responsáveis, mas estávamos só a ser cobardes. Aquilo a que chamávamos realismo acabava por ser uma maneira de evitar as coisas e não de as enfrentar. Tempo... deem-nos tempo suficiente e as nossas decisões mais fundamentadas parecerão instáveis e as nossas certezas, bizarras."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.98
"Às vezes penso que a finalidade da vida é reconciliar-nos com a sua eventual perda esgotando-nos, e provando, por muito tempo que leve, que a vida não é tão boa como se diz."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.109
"«Aquestão da acumulação», escrevera Afrian. Apostamos dinheiro num cavalo, ele ganha, e o que ganhámos segue para o próximo cavalo da próxima corrida, e assim por diante. Os nossos ganhos acumulam-se. E acumulam-se as perdas? No hipódromo não - lá só perdemos a aposta inicial. Mas na vida? Talvez aqui se apliquem regras diferentes. Apostamos numa relação, ela falha; avançamos para a próxima relação, falha também: e talvez o que perdemos não sejam duas pequenas somas negativas, mas o múltiplo daquilo que apostámos. É isso que sentimos, de qualquer modo. A vida não é só adição e subtração. Também há acumulação, multiplicação da perda, do fracasso."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.107/108
"O carácter revela-se com o tempo? Nos romances, é claro que sim: se não não haveria muita história. Mas na vida? Às vezes fico a pensar. As nossas atitudes e opiniões mudam, desenvolvemos hábitos e excentricidades; mas isso é uma coisa diferente, é mais como a decoração. Talvez o carácter se assemelhe à inteligência, mas o carácter desponta um pouco mais tarde: entre os vinte e os trinta, digamos. E depois ficamos presos ao que temos. Ficamos por nossa conta. Se é assim, isso explica uma data de vidas, não explica? E também a nossa tragédia - se a palavra não é muito grandiosa."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.107
"Acredito certamente que todos sofremos danos, de uma ou outra maneira. Como podíamos não sofrer, se não existe um mundo de pais, irmãos, vizinhos e companheiros perfeitos? E depois há a questão, de que tanta coisa depende, do modo como reagimos ao dano: que o reconheçamos, quer o recalquemos, e como isso afecta as nossas relações com os outros. Alguns admitem o dano e tentam suavizá-lo; outros passam a vida a tentar ajudar outros que sofreram danos; e há depois aqueles cuja maior preocupação é evitar mais danos para si próprios, a qualquer preço. Esses são os implacáveis, aqueles com quem devemos ter cuidado."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.50/51
"Lera algures que, se queremos fazer com que as pessoas deem atenção ao que dizemos, não levantamos a voz, baixamo-la:é isso o que de facto prende a atenção."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.39
"A História é essa certeza que se produz no ponto em que as imperfeições da memória se cruzam com as insuficiências da documentação."
O Sentido do Fim, Julian Barnes, p.24