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Dos livros aos filmes, passando pelos blogs. As frases que me marcam.
"As gerações são como fronteiras, são como linhas, marcam uma estrema que divide. As gerações só se dão verdadeiramente definidas no fim do último elemente que as compõe. É esse que transporta a derradeira ponta do fio e, por mais aparente eternidade, chegará o seu momento. As fronteiras não podem escapar à sua natureza profunda: marcam o fim do que nos pertence e o início de tudo o que existe para além de nós, tudo o que nos ignora. As gerações são como fronteiras. Podemos considerar qualquer geração: acontece aos mais velhos, aos mais novos, acontecerá aos que são agora crianças e aos que são agora adolescentes, apesar da sua inocente arrogância. Chegará o tempo em que desaparecerão um a um. Entre eles, quem serão os primeiros? Quem morrerá antes do tempo? E quem será o último? Quem terá de assistir à morte de todos os outros? Esse aprenderá esta lição pela experiência, a sua vida será a fronteira."
José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"
"Quando acumulamos sufiente tempo, os domingos transformam-se num período de vida. Recordamos os domingos como uma unidade, anos inteiros só de domingos, estações inteiras compostas apenas por domingos: os domingos de verão, os domingos de outono, todos os domingo de inverno e, de novo, as promessas feitas pelos domingos de primavera. Foram dias separados por semanas, antecedidos por sábados com ilusões próprias, sucedidos por segundas-feiras com agendas precisas, tarefas fatais que exigiam ser feitas, mas tudo se dissipa até ficar apenas uma amálgamade domingos. Ao serem vividos, transformaram-se nessa amálgama, como um almoço de domingo infinito, a crescer permanentemente a partir do seu interior."
José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"
"Morrer é dos verbos em que existe maior separação entre a primeira e a terceira pessoa. Se ele morre, é a vida, pode merecer um instante de pausa, o olhar brevemente caído, ou nada; se ele morre, pode não existir qualquer reação; se eu morro, implode o universo, não há outro assunto."
José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"
"O passado tem de provar constantmente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indíviduo desparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido. (...) O passado é enorme, é como uma montanha, e assenta inteiro sobre o presente, que é como uma agulha, como a ponta afiada de uma agulha."
José Luís Peixoto, "Almoço de Domingo"
"As pessoas consideram muitas vezes que a escrita de um romance começa pela ideia. A bem dizer, um romance começa, antes de mais, por uma vontade: a vontade de escrever. Uma vontade que toma conta de nós e contra a qual não há nada a fazer, uma vontade que nos desvia para tudo o resto. A esse desejo constante de escrever chamo doença dos escritores. Pode-se encontrar a melhor das intrigas romanescas, mas, se não houver a tal vontade de escrever, não se vai a lado nenhum."
Joël Dicker, "O enigma do quarto 622"
"A beleza que a Cerullo possuía na mente desde pequena não encontrou saída, Greco, e foi-lhe toda parar à cara, ao peito, às coxas e ao cu, lugares onde depressa desaparece, e é como se nunca a tivesse tido."
Elena Ferrante, "A Amiga Genial"
"Kafka escreveu, nos seus diários, que «um escritor que não escrever é um monstro a cortejar a insanidade». (...) Faz a ti próprio esta pergunta à maneira de Rilke: Preciso de escrever? E, caso a resposa seja positiva e sincera, então podes chamar a ti próprio «escritor«, mesmo que nada tenhas publicado."
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
"Faulkner disse acerca de Hemingway: «Que se saiba, ele nunca usou uma palavra que fizesse o leitor ir ao dicionário.» Hemingway interpretou isto da seguinte maneira: «Pobre Faulkner. Será que ele julga mesmo que as grandes emoções nascem das grandes palavras?".
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
"(...) existe alguma coisa na experiência de estar vivo que é particularmente difícil de assimilar para a hipersenibilidade do escritor. Se a escrita cumpre algum papel, é o de relativizar essa experiência, abarcando-a completamente."
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
" Na construção de uma narrativa, o escritor ocupa, de certa maneira, este lugar do divino. O teu silêncio deve ser tão cruel e repleto de amor como o silêncio de Deus. O(s) teu(s) protagonista(s) é/são responsável/eis pelas suas escolhas e deve(m) reconhecer as consequências das suas acções, mas nunca lhe(s) deves dizer porquê.
Não há nada que mate um livro mais depressa do que a justificação ou a exposição forçada.
Noutras palavras: a imanência, na qual existimos e trabalhamos, e sobre a qual trabalhamos, não carece de explicação. Se a tua prosa for verdadeira, nunca precisarás de dizer porquê. Apenas Quem, Como, Onde, Quando."
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
"No fundo, toda a ficção é inverosímil, pelo simples fato de não ter acontecido. Por outro lado, mesmo que tenham eventualmente acontecido, algumas histórias não são credíveis. Já todos ouvimos alguém dizer «parece mentira». (...) Assim é a ficção; assim funciona a arte. Ela não trata do que é real, mas do que é verdadeiro. E o verdadeiro não é necessariamente aquilo que aconteceu (embora possa sê-lo), mas aquilo que é mais necessário que que se fosse real. (...)
Confuso? Scott Fitzgerald disse-o melhor do que eu: « Um artista é alguém que consegue ter dois pontos de vista contraditórios e, ainda assim, continuar a funcionar.»
Se queres ser escritor, tens de aceitar esta profunda contradição. Por um lado, és um fingidor. Por outro, fingido, tentas chegar à verdade. Sendo, ao mesmo tempo, um ficcionista e um cidadão, tens i direito de fingir tanto quanto tens o direito (e também o dever) de não fingir (...)."
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
"(...) toda a ficção tem o seu quê de «científica» no sentido de provir de um planeta longínquo: os lugares mais recondidos da nossa alma."
João Tordo, Manual de Sobrevivência de um Escritor
"O politólogo italiano Norberto Bobbio escreveu um livro célebre acerca dos conceitos de esquerda e direita (...). Distinguiu os dois quadrantes ideológicos de uma maneira bastante acessível e clara (...): a esquerda acredita que as pessoas são mais iguais que desiguais, e por isso defende que a sociedade deve tender para reproduzir a igualdade; a direita acredita que as pessoas são mais desiguais do que iguais, e por isso considera natural, e até justo, que a sociedade reproduza essa desigualdade - pelo menos até certo ponto."
Ricardo Araújo Pereira, Estar Vivo Aleija
"Os gatos sabem qualquer coisa; os cães são tão estúpidos como eu - o que lhes dá um encanto muito especial. Os gatos parecem ter uma informação importante acerca do que é isto de estar vivo; os cães não fazem ideia do que andam aqui a fazer. Acham quase tudo espantoso, e não têm vergonha desse maravilhamento constante, apesar de ser tão parecido com estupidez. Os cães são crianças pequenas, os gatos são filhos adolescentes: também nos amam, embora com alguma relutância, e acham mesmo que são independentes, apesar de continuarem a precisar de nós para comer. Um gato é uma fraude ostensiva, uma ironia da natureza: parece um tigre, move-se como um tigre, pensa que é um tigre - mas pesa três quilos. (....) O cão é o melhor amigo do homem; o gato é o melhor inimigo."
Ricardo Araújo Pereira, Estar Vivo Aleija
"Ser adulto é esquecer o que foi ser criança."
Ricardo Araújo Pereira, Estar Vivo Aleija
"Os franceses têm uma expressão: «L'esprit d'escalier», o espírito da escada. Serve para designar aquela resposta brilhante da qual a gente se lembra quando já é tarde demais. O orador abandona a tribuna e, no momento em que já vai a descer a escada, ocorre-lhe o que, de facto, deveria ter dito."
Ricardo Araújo Pereira, Estar Vivo Aleija
"Chego a pensar que um pedaço de texto que se resolve em cinco minutos terá eventualmente mais de mim do que a letra duma canção, que me demora cinco meses. Mais de mim, por ter menos de mim a interpor-se-lhe no caminho. Eu apareço menos de permeio entre a ideia e a sua resolução, talvez as ideias se mostrem com mais transparência ao não serem forjadas no molde que se lhes depara à frente."
Penas de Pato, Miguel Araújo
"How you live your life is your business. But remember, our hearts and our bodies are given to us only once. Most of us can't help but live as though we've got two lives to live, one is the mockup, the other is the finished version, and then there are all those versions in between. But there's only one, and before you know it, your heart is worn out, and, as for our body, there comes a point when no one looks at it, much less wants to come near it."
Call Me by Your Name, André Aciman, p.225
"In your place, if there is pain, nurse it, and if there is a flame, don't snuff it out, don't be brutal with it. Withdrawal can be a terrible thing when it keeps us awake at night, and watching other forget us sooner than we'd want to be forgotten is no better. We rip out so much of ourselves to be cured of things faster than we should that we go bankrupt by the age of thirty and have less to offer each time we start with someone new. But to feel nothing so as not to feel anything - what a waste!"
Call Me by Your Name, André Aciman, p.224
"People who read are hiders. They hide who they are. People who hide don't always like who they are."
Call Me by Your Name, André Aciman, p.115